Vou ouvindo música…
Sussurro coisas para dentro de mim.
Deixo-me ficar pensativa.
Pouco depois volto a prestar atenção à mensagem,
A mensagem que a canção me deixa.
Começa outra.

Incrível como a música nos pode dizer tanto.
Há dias em que a ouço, calada.
Outros em que a acompanho. Canto alto
E o meu corpo entra em sintonia com ela.

Nos dias em que não temos coisas a dizer,
A música é uma óptima companhia.
E depois a mescla de géneros. Cada um ao seu estilo.
Eu gosto da música.
Da música que me faça sorrir,
Espernear,
Emocionar,
Reflectir…
Gosto daquelas músicas que me mostrem o que ainda não conheço…
E daquelas que cantem, com palavras graciosas, coisas que já sei.

Gosto dos dias em que me deixo ficar quieta. Sozinha.
Sozinha mas acompanhada de uma mensagem e de um som.
Ou seja, de música.
Gosto dos dias, em que assim, me deixo levar por ela.
Por ela e por aquilo que vai aqui dentro.
Fecho os olhos e não penso. Sinto e escuto.

Consigo ter também aqueles dias de electricidade estática.
Contorno-a com música estridente. Salto, corro, balanceio-me toda.
Mas também gosto.

A música. A música dá-nos tanto.
Levamos tempo a perceber.
Mas quando percebemos é tão bom.
Ela diz-nos o que não conseguimos dizer tantas vezes.
E depois nessas alturas, sorrimos e acenamos com a cabeça,
Como se falássemos com a música e lhe disséssemos:
- Sim! É isso mesmo…!

Cada uma à sua maneira.
Cada uma para cada qual.
A música é assim…

Há músicas que ilustram momentos,
Pessoas,
Lugares…
Há músicas que nos fazem recordar, de imediato
Uma circunstância,
Um gesto,
Um olhar
Ou um sorriso.
E enquanto se escuta essa dita música
Conseguimos transportar-nos para esse lugar,
Voltar a sentir como foi…
Lembramos cheiros,
Sabores,
Sensações.

Quando ouvimos música…
Podemos ficar no mesmo lugar,
Imóveis
Ou podemos viajar.
Viajar para lugares que nos deram muito
Ou então que preferimos não voltar a visitar.
Mas ao menos viajamos!...

; )

Ainda me lembro de quando era pequena e te tinha a ti para tudo.
De como era bom pensar que te tinha.

Aspirava ser como tu, um dia.

Ainda te lembras de quando me lias as legendas dos filmes?
Eu cá lembro-me muitas vezes.

Lembro-me que eras tu que me forravas os livros.
Que me compravas os cromos da Rua Sésamo e me ajudavas a colá-los.

Lembro-me do dia em que me levaste à escola dos grandes e me mostraste aos teus amigos.
De quando compraste o teu carro e me levaste a dar uma volta.

Ainda me lembro das vezes que cuidaste de mim. Ah! E de ter aprendido a andar de bicicleta contigo.

Lembro-me que sempre falaste comigo como se eu fosse crescida também. Que me davas livros nos anos e que uma vez até me deste uns patins no natal.

Sabes... gosto de contar estas coisas aos meus amigos...!

Hoje estamos diferentes.
Mas são estas coisas de que me lembro tão bem que não fazem desacreditar o que tu ainda és para mim. Meu irmão.

Este foi um dos meus destinos de sábado. Prometi a mim mesma que aos sábados tenho de sair da cidade e ir visitar outro ponto. Outro lugar que me marque nesta jornada de cinco meses.

O Jardim Botânico Canário Viera y Clavijo foi fundado em 1952 por um botânico sueco de seu nome Eric Sventenius – grande conhecedor da flora canária.
Neste jardim é-nos dada a conhecer a variedade florística do Arquipélago Canário e, em particular, da Região Macaronésica.

O que tem de especial?

Bom… para além de ser o maior de toda a Espanha, conta com surpreendentes trilhos e espaços que nos fazem sentir agradavelmente bem!
O que chama mais à atenção é, sem dúvida, o enorme número de cactos.
Cactos gigantes, imponentes.
Algumas plantas chegam mesmo a falar com muitos dos visitantes. Experimentei a abeirar-me de uma menos bonita, com aspecto triste e doente. Logo me respondeu através de uma etiqueta que a acompanhava: “ii No estoy muerta !! Solo estoy descansando. Nos vemos en Otoño.”

As palmeiras são presença assídua.
E depois… sorrimos com o que dá cor ao jardim: estrelícias, buganvílias e outras que tais...!

Que tarde mais bem passada!... :D

Gosto de sentir falta daí.
Espelha a riqueza que me espera. O que conquistei.

Mas nem por isso quero estar aí agora. A volta está marcada.

Não tenho pressa.



Estou numa ilha pequena. Sozinha e com toda a gente.
Rodeada de mar.
Aqui estou.

Os demais? Continuam comigo, colados ao peito.
De quem falo? Todos sabem. Cada um conhece o seu espaço em mim.

Vagueiam todos os dias nos meus gestos, nos meus passos...
E é com eles que, também aqui, sou feliz!

Não lhes toco e o meu olhar não se cruza com o olhar deles.
Todavia, tem sido com eles que tenho vindo a deixar os meus traços marcados nestas ruas, nestas praças.

Vejo-me, sem me ver, numa viagem constante entre aqui... e aí!

"O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova..."
[Miguel Torga]