Ao contrário do que idealizei, a cidade é enorme e bastante agitada.
Bem ao gosto espanhol, não poderia faltar uma Plaza de España, um El Corte Inglès e os espaços que servem tapas e bocadillos.

Julgo ser a única portuguesa que esteja integrada no programa Erasmus deste primeiro semestre. O mesmo não se pode dizer da "comunidade" italiana que por aqui se instalou...! São tantos que ofuscam os alemães, polacos, franceses e finlandeses que também já tive oportunidade de conhecer.

Estou a morar perto do mar, numa das pontas da cidade, num bairro histórico com vizinhos curiosos, que de manhã fazem, literalmente, uso das cordas vocais...!!
A escassos metros alcanço a Playa de Las Canteras, extenso areal da cidade, com um paseo onde dá gosto caminhar.

O idioma está a entranhar-se em mim.

Vou descobrir.
Encontrar.
Deixar os meus passos marcados em calçadas diferentes das daqui.

As palavras ficam-me presas na garganta por não saber bem explicar como estou agora.
A verdade é que estou feliz.
Quero vir feliz.

Vou fazer desta a primeira de muitas.
Deixando-me levar. Aqui vou.

“É o vento que me leva.
O vento lusitano.
É este sopro humano
Universal
Que enfuna a inquietação de Portugal.
Que tudo alcança
Sem alcançar.
Que vai de céu em céu,
De mar em mar,
Até nunca chegar.
É esta tentação de me encontrar
Mais rico de amargura
Nas pausas da ventura
De me procurar...”

[Miguel Torga]

A estória que vos conto é a de uma menina borboleta.
Ela é cheia de cor, tem cachos no cabelo e um coração grande, grande.
Conheci-a assim mesmo.

O voo dela é, como dizer, ziguezagueante mas seguro.
Comecei a trazê-la comigo desde que fui para aquele lugar. Aquele, vocês sabem. Aquele lugar de que já vos falei. Aquele lugar onde tudo aconteceu. : )

Eu cá gosto dela…!

A borboleta de que falo está agora acompanhada. Traz consigo a sobrinha de todos aqueles que se conheceram naquele lugar. O lugar onde traçámos caminho. Um caminho delineado por nós, todos juntos. Vocês sabem…!

Bom, na verdade a companhia da borboleta é uma outra borboleta, decerto igualmente bela, mas ainda envolta no seu casulo, bem quentinha.
Esta estória é bonita, garanto-vos. É quase uma fábula.
Encantada, juro!

Estamos todos atentos ao casulo, entusiasmados, ansiosos por poder assistir ao primeiro voo da nossa nova borboleta.

Haverá estória mais bela que aquela que tenha duas borboletas?
A mim também me parece que não.

[Para a Tânia e a Ju – As mais esvoaçantes que conheço]

Às vezes sou levada a muitos lugares, uns melhores que outros. Mas todos eles, todos sem excepção, me fazem crer que vou ter de criar asas, asas que me levem a espaços de tirar a respiração, de tão ofegante surpresa se hão-de revelar.

E enquanto me deixo levar, sou feliz…! E só por isso já vale a pena ser paciente e esperar – sem pressa – que a minha janela para o mundo se abra no momento certo, com quem quiser estar a meu lado.

Confesso-me impaciente para determinadas coisas. Mas no que respeita a outras, não me importo que não passem de momentos de sonho por mais que se prolonguem sem que se realizem. Porque, estou certa, que se pesar muito a vontade e a determinação, quando a minha janela se abrir hão-de chover sorrisos, experiências e imagens que me vão recompensar devidamente, no tempo certo.

Quando os raios de sol me baterem no rosto, eu vou saber que está na hora…! ; )

[Imagem: Person at the window, Salvador Dalí]