Apaga tudo
Adormece e acorda e vive outra vez
Segue esse caminho que te define
Sê feliz
Adormece por favor
Crê em tudo o que és
Vive
Entrega-te de novo
Reconhece o que realmente te pertence
E liberta-te desse aperto
Dessa mágoa
Deste momento que não é teu

Cria
Partilha
Alimenta
Renasce
Engrandece
Recria e transforma a tua existência em momentos ainda mais preciosos
Ainda mais valiosos
Mas sempre …
Perto de ti.


"Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... - não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro - seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um grande amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fieldade - para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito - peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista - muito mais, muito mais que na modista! - para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs - comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica, e gostosa, farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto - pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente - e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia - para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que - que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada - para viver um grande amor."

Nestes últimos meses em que tudo aparentemente mudou na minha vida, provei o sabor de uma cultura diferente, distante e em efervescência económica. Só económica.

Abracei a oportunidade que tanto precisava para me sentir capaz e reconhecida, na esperança que esta me traria a chance de me afirmar e de enriquecer o caminho que planeio traçar.

Não é de todo o arrependimento que me tem desacelerado. É antes a falta das minhas pessoas e do calor que me dão. Daquele aconchego de que precisamos para não nos sentirmos perdidos e sonâmbulos. É até a falta do território que eu entendo por meu, por nosso.

Ultrapassei milhas num oceano de distâncias para reconhecer, uma vez mais, o valor que o nosso país tem para mim. A necessidade que tenho em ser pertença dele.

No entanto, mantenho em mim o gosto pela conquista e a curiosidade que fervilha sempre que surge a vontade de ultrapassar fronteiras e conhecer outros lugares.

A esta distância identifiquei diferenças que todos pensam serem semelhanças. E vácuos onde todos pensam encontrar conteúdo.

Não obstante, este país tem a música e os autores e tem a mão de alguém superior que escolheu o Brasil para pincelar quadros de natureza deslumbrantes e extasiantes, como se de um milagre se tratasse.

O choque, ainda que minimamente esperado, residiu na dificuldade em me fazer entender. Sim, falamos a mesma língua. Mas...

Aconteceu também ao aperceber-me do distanciamento à realidade portuguesa. E para quem carrega na mala um orgulho genuíno das suas raízes, este fato exigiu um esforço reforçado na necessidade de compreender o porquê e de aceitar, sem chauvinismos. No final de contas, procurar integrar-me numa cultura distinta faz parte do desafio a que me propus.

O contraste que fui encontrar no ambiente de trabalho reflete uma convivência pacífica com a informalidade e a descontração. A natural simpatia e o sentido de humor estão sempre de mãos dadas com a tolerância. E o relacionamento entre líder e subordinado é ténue quando comparado com a realidade portuguesa que se apresenta sempre com um maior distanciamento. 

Batendo perna pela rua em botecos, lanchonetes, drogarias, lojas, supermercados e espaços públicos notamos uma distribuição sobre doseada dos recursos humanos. De forma geral, essa situação acaba por ocasionar uma estrutura organizacional confusa e até enigmática por vezes, mas, por outro lado, uma taxa de desemprego quase inexistente no país.

O Brasil é hoje um país em franca ascendência e consequente reconhecimento, mas, no dia-a-dia os contrastes são evidentes e sente-se de forma generalizada uma falta de interesse pelo que existe para além do conhecimento geral. 

Refletindo sobre a experiência, eu concluo que ela me trouxe de forma positiva mais uma barreira, mais um obstáculo, mais um ambiente, mais relações humanas. Com ela tenho conhecido novos limites, novas conquistas, e perdas também. Mas nela tudo, tudo mesmo, me há-de fortalecer ainda mais.

Teres a coragem de sair da tua zona de conforto e testar a tua resistência humana e emocional em prol de uma promessa e de uma esperança falece na falta de valorização, confiança e parceria. Mas aos poucos sinto que tudo está a chegar, sem que para isso seja preciso gritar e implorar.

Estou feliz por ter sido parte integrante deste projeto e ter tido a chance de ensinar como é Portugal.

Uma gota num oceano de separação, é certo. Mas marquei presença e passei a palavra.


Este é o lugar onde reina uma paz suave e onde a natureza nos presenteia com um cenário marcante.

É encantador perceber a variação dos tons da Pedra do Elefante de acordo com a luminosidade do dia. E impossível esquecer aquelas caminhadas sem fim por riachos e trilhas para nos encontrarmos com cachoeiras e com flores silvestres que só moram ali.
Poucos associariam este espaço ao Brasil mas a verdade é que se estivermos bem atentos, tudo nele tem que ver com a Terra Prometida.
Enquanto existirem pedaços de terra como este, seremos certamente felizes e não mais duvidaremos sobre qual o caminho certo a seguir.


Sempre-vivas caldo de mandioca 
poção orquídeas a brotar de troncos rede na varanda 
gavião bando de piriquitos verdes Marley
borboleta gigante arroz e feijão goiabada 


Ter tido a oportunidade de entrar na Rocinha foi surpreendentemente surreal e marcante.
Vi-me no meio de um cenário que é naturalmente temido mas que ao mesmo tempo desafia e cria em todos uma curiosidade formigante.
O espaço é fiel às imagens que nos chegam e a impressão no estômago graças ao nervoso miudinho que se sente acompanha-te do início ao fim.
Foi importante mais do que conhecer, entender! Entender o que todos generalizam.
É impressionante a disposição das casas, a largura das ruas, os animais, as crianças, os sorrisos.
Uma cidade dentro de outra - mais de 70 000 moradores.
Bem lá do alto, a vista é desesperadamente contrastante. Tu não paras de pensar e só sentes estar numa realidade à parte mas estupidamente autêntica. A Rocinha divide espaço com a alta sociedade carioca.
Sim, o cheiro é tantas vezes nauseabundo e o lixo passeia nas ruas nos poucos espaços onde o tijolo não impera. O saneamento básico só agora começa a chegar. A luz elétrica é um emaranhado de fios que acompanha as ruas sem nome. 
As crianças, não conhecendo outra realidade, convivem com tudo isso e sorriem-te, estendem-te a mão e mostram que são felizes.
Além das construções irregulares, a favela marca diferença pelo movimento constante, pelos sons e pelos moto-táxis que aceleram nas curvas - aqueles que nos levaram até ao topo da Rocinha.
Durante o percurso cruzamo-nos com policiais que marcam agora presença graças ao processo de pacificação que querem levar a cabo. 
Os moradores aceitam naturalmente o seu habitat e muitos deles já começam a trazer para a comunidade uma postura distinta, procurando reconhecer a importância da educação e entendendo o conceito de sociedade. Graças também a alguns intervenientes externos que procuram ter uma atitude cada vez mais ativa na vida destas pessoas.
É um lugar hostil quando te apercebes das balas marcadas nas paredes das casas e do cuidado no comportamento que tens de adotar por forma a não melindrares ninguém com a tua presença e a salvaguardares quem ali te levou.

É estonteante pensar que estive lá.


É um sem mar de apertos
Um vai e vem de quereres, de esperas e anseios
O sol aqui bate de frente, beija-te a cara. É forte, vivo e quente.
O único vizinho que tenho é o tempo, aquele que passa e traz promessas.
Luto contra a apatia disfarçada do povo e continuo o caminho que me trouxe até aqui, na esperança que este me leve a outros lugares e a outras viagens.
Tudo valerá a pena, até no ponto mais recôndito do mapa, até na mais vulgar prova de amor.
Acredito na valência de uma aposta. Esta aposta veloz que procuro todos os dias encontrar nas palavras que escolho e nas atitudes que naturalmente espelham quem sou.
Procurando ser sempre melhor, aprendendo todos os dias com o pormenor que tão frequentemente nos escapa entre dedos.
Quero percorrer caminhos que me abram portas para a cultura e para o rosto; para a partilha e para o sorriso.
No entanto, é também com essa descoberta que quero voltar, trazendo comigo e para o meu lugar, riquezas inimaginavelmente precisas para saldar o preconceito, a ignorância e o marasmo que nos mina e limita.

Pensa só naquilo que importa
Mas no final, o que sobra?
Se ela quer sem querer
Se sente sem sentir
Se teme sem temer
Hoje sim, amanhã não
Vamos, prossegue!
Vá lá, insiste!
Mostra a força que tens
Mostra ao que vens
Tu que és limpa
Contra esses corpos imundos!
Num chão que só a eles pertence...
E onde tudo os vence
Ai, este vai e vem
Este barulho
Flor da pele
Aperto e nó
Sem chão
Uma só mão.

   

    "Eu nasci no celeiro da arte, 
     no berço mineiro, 
     sou do campo da serra, 
     onde impera o minério de ferro...
     Eu carrego comigo no sangue, 
     um dom verdadeiro, 
     de cantar melodias de Minas, 
     no Brasil inteiro...
     Sou das Minas de ouro, 
     das montanhas Gerais,
     eu sou filha dos montes, 
     das estradas reais...
     Meu caminho primeiro, 
     vi brotar dessa fonte, 
     sou do seio de Minas, 
     nesse estado um diamante..."
     
     Seio de Minas
     Paula Fernandes



Ouro Preto deu-me resquícios de um passado comum


Los recuerdos se quedarán en cada memoria de los dias de arena y mar
Y en los carnavales de polvo blanco y de sonrisas sin fin.
Pero sobretodo, en las despedidas felices.

Ciao Santo*

A vontade de escrever acompanha-me os sentidos mas fraquejo a cada instante e a cada tentativa. Porque eu sinto tão mais do que vos digo…
Eu penso bem mais do que consigo passar para a palavra! Então frustro no momento da redacção.


Rodeio os meus dias de impressões e conclusões… até de questões a que talvez nunca receba resposta. Mas estou perto das certezas, das lembranças que me fazem estar segura do que é certo.
Caminhando numa trilha que hoje entendo, melhor do que nunca.

Quando criança subia árvores, conquistava terrenos e comia fruta ao mesmo tempo que a colhia. Hoje faço o mesmo, mas num palco de cenário distinto.


The child is not dead

"The child lifts his fists against his mother
Who shouts Afrika ! shouts the breath
Of freedom and the veld
In the locations of the cordoned heart
The child lifts his fists against his father
in the march of the generations
who shouts Afrika ! shout the breath
of righteousness and blood
in the streets of his embattled pride
The child is not dead
not at Langa nor at Nyanga
not at Orlando nor at Sharpeville
not at the police station at Philippi
where he lies with a bullet through his brain
The child is the dark shadow of the soldiers
on guard with rifles Saracens and batons
the child is present at all assemblies and law-givings
the child peers through the windows of houses and into the hearts of mothers
this child who just wanted to play in the sun at Nyanga is everywhere
the child grown to a man treks through all Africa
the child grown into a giant journeys through the whole world
Without a pass."

Ingrid Jonker




Aqui a Arte sorri a cada pétala, a cada folhagem.

E nós queremos fazer parte disso também, por isso envolvemo-nos,
recriamos e imaginamos…
Ao mesmo tempo que entendemos o afecto partilhado entre objecto e essência, natura e matéria.

Aqui é Inhotim.


Numa cidade onde os dias não anunciam chegar, há luz, ruído, gente. 

Nessa cidade onde tudo acontece depressa e onde o bulício frenético de tráfego parece não ter fim.

Lugar de contrastes, até nas mais pequenas coisas. 

Mas ainda que díspares, os opostos misturam-se, enredam-se numa cultura de miscelânea humana, nos rumores constantes, nos cheiros, nos sabores, nos olhares – 'cê fala cantando.

E a Natureza! A que acompanha em um qualquer pormenor, aquela que não despreza por ser cidade.

Depois de tudo, ainda exibe com vaidade Niemeyer, que com mestria "arquitectou" há décadas obras que continuam a ser consideradas como modernas. 

Mas certamente este entendimento será tão menor, perante todo este país que só não é continente por um triz.


Ela ontem e sempre, com o seu dom de nos sossegar...
Deu-nos instantes de emoção, êxtase e surpresa.
Rimos e sorrimos com a sua naturalidade e grandeza
- ambas juntas, sempre dadas.
Mostrou-nos poemas imensos, cantou à capella.