Nestes últimos meses em que tudo aparentemente mudou na minha vida, provei o sabor de uma cultura diferente, distante e em efervescência económica. Só económica.

Abracei a oportunidade que tanto precisava para me sentir capaz e reconhecida, na esperança que esta me traria a chance de me afirmar e de enriquecer o caminho que planeio traçar.

Não é de todo o arrependimento que me tem desacelerado. É antes a falta das minhas pessoas e do calor que me dão. Daquele aconchego de que precisamos para não nos sentirmos perdidos e sonâmbulos. É até a falta do território que eu entendo por meu, por nosso.

Ultrapassei milhas num oceano de distâncias para reconhecer, uma vez mais, o valor que o nosso país tem para mim. A necessidade que tenho em ser pertença dele.

No entanto, mantenho em mim o gosto pela conquista e a curiosidade que fervilha sempre que surge a vontade de ultrapassar fronteiras e conhecer outros lugares.

A esta distância identifiquei diferenças que todos pensam serem semelhanças. E vácuos onde todos pensam encontrar conteúdo.

Não obstante, este país tem a música e os autores e tem a mão de alguém superior que escolheu o Brasil para pincelar quadros de natureza deslumbrantes e extasiantes, como se de um milagre se tratasse.

O choque, ainda que minimamente esperado, residiu na dificuldade em me fazer entender. Sim, falamos a mesma língua. Mas...

Aconteceu também ao aperceber-me do distanciamento à realidade portuguesa. E para quem carrega na mala um orgulho genuíno das suas raízes, este fato exigiu um esforço reforçado na necessidade de compreender o porquê e de aceitar, sem chauvinismos. No final de contas, procurar integrar-me numa cultura distinta faz parte do desafio a que me propus.

O contraste que fui encontrar no ambiente de trabalho reflete uma convivência pacífica com a informalidade e a descontração. A natural simpatia e o sentido de humor estão sempre de mãos dadas com a tolerância. E o relacionamento entre líder e subordinado é ténue quando comparado com a realidade portuguesa que se apresenta sempre com um maior distanciamento. 

Batendo perna pela rua em botecos, lanchonetes, drogarias, lojas, supermercados e espaços públicos notamos uma distribuição sobre doseada dos recursos humanos. De forma geral, essa situação acaba por ocasionar uma estrutura organizacional confusa e até enigmática por vezes, mas, por outro lado, uma taxa de desemprego quase inexistente no país.

O Brasil é hoje um país em franca ascendência e consequente reconhecimento, mas, no dia-a-dia os contrastes são evidentes e sente-se de forma generalizada uma falta de interesse pelo que existe para além do conhecimento geral. 

Refletindo sobre a experiência, eu concluo que ela me trouxe de forma positiva mais uma barreira, mais um obstáculo, mais um ambiente, mais relações humanas. Com ela tenho conhecido novos limites, novas conquistas, e perdas também. Mas nela tudo, tudo mesmo, me há-de fortalecer ainda mais.

Teres a coragem de sair da tua zona de conforto e testar a tua resistência humana e emocional em prol de uma promessa e de uma esperança falece na falta de valorização, confiança e parceria. Mas aos poucos sinto que tudo está a chegar, sem que para isso seja preciso gritar e implorar.

Estou feliz por ter sido parte integrante deste projeto e ter tido a chance de ensinar como é Portugal.

Uma gota num oceano de separação, é certo. Mas marquei presença e passei a palavra.

1 Comment:

  1. Ines said...
    revejo-me em quase tudo o que escreveste. de facto, é quando estamos longe que damos valor ao que temos de mais importante. e esse abrir de novas realidades, e a curiosidade para ver além do que está à frente dos nossos olhos (nomeadamente das desigualdades que falas, que não interessam à maioria), enche-nos o espírito sempre que pensamos que passámos por esta aventura.
    não é fácil, de todo, muitas das vezes damos por nós a pensar em raízes, origens, distância... o trade-off para quem tem coragem de sair é sempre muito grande, mas sabemos que quando voltamos há um reconfortante sorriso e calor humano à nossa espera.
    para além de uma simples aventura, torna-se necessário partir e voltar, pois é com este ciclo que apreendemos o Mundo e vamos conhecendo novos traços de nós mesmas, a força, a vulnerabilidade, o que nos toca mais, a resiliência face a contrariedades... tudo uma mistura de sentimentos e conquistas que acredito, nos tornam melhores pessoas. e no final é só isso importa. :)

Post a Comment