Ter tido a oportunidade de entrar na Rocinha foi surpreendentemente surreal e marcante.
Vi-me no meio de um cenário que é naturalmente temido mas que ao mesmo tempo desafia e cria em todos uma curiosidade formigante.
O espaço é fiel às imagens que nos chegam e a impressão no estômago graças ao nervoso miudinho que se sente acompanha-te do início ao fim.
Foi importante mais do que conhecer, entender! Entender o que todos generalizam.
É impressionante a disposição das casas, a largura das ruas, os animais, as crianças, os sorrisos.
Uma cidade dentro de outra - mais de 70 000 moradores.
Bem lá do alto, a vista é desesperadamente contrastante. Tu não paras de pensar e só sentes estar numa realidade à parte mas estupidamente autêntica. A Rocinha divide espaço com a alta sociedade carioca.
Sim, o cheiro é tantas vezes nauseabundo e o lixo passeia nas ruas nos poucos espaços onde o tijolo não impera. O saneamento básico só agora começa a chegar. A luz elétrica é um emaranhado de fios que acompanha as ruas sem nome. 
As crianças, não conhecendo outra realidade, convivem com tudo isso e sorriem-te, estendem-te a mão e mostram que são felizes.
Além das construções irregulares, a favela marca diferença pelo movimento constante, pelos sons e pelos moto-táxis que aceleram nas curvas - aqueles que nos levaram até ao topo da Rocinha.
Durante o percurso cruzamo-nos com policiais que marcam agora presença graças ao processo de pacificação que querem levar a cabo. 
Os moradores aceitam naturalmente o seu habitat e muitos deles já começam a trazer para a comunidade uma postura distinta, procurando reconhecer a importância da educação e entendendo o conceito de sociedade. Graças também a alguns intervenientes externos que procuram ter uma atitude cada vez mais ativa na vida destas pessoas.
É um lugar hostil quando te apercebes das balas marcadas nas paredes das casas e do cuidado no comportamento que tens de adotar por forma a não melindrares ninguém com a tua presença e a salvaguardares quem ali te levou.

É estonteante pensar que estive lá.

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